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atriz | roteirista

QUEBRANDO OS ARCOS: "BREAKING BAD" (1ª TEMPORADA)

  • Foto do escritor: Stephanie Degreas
    Stephanie Degreas
  • 18 de ago. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 30 de ago. de 2021

(Este texto contém spoilers da 1ª temporada de Breaking Bad)


Na série QUEBRANDO OS ARCOS vamos analisar o arco de temporadas de séries de ficção, aproveitando para quebrar também o arco de cada um dos episódios. E a primeira análise, como não poderia deixar de ser, é da redondíssima 1ª temporada de Breaking Bad.



Para quem não lembra (ou não conhece),

Breaking Bad é uma série de 5 temporadas criada pelo Vince Gilligan. Ela estreou em 2008 na AMC e é uma referência de dramaturgia dentro da estrutura clássica. A temporada que vamos analisar aqui é assinada, além do próprio Vince Gilligan, por mais três roteiristas: Patty Lin, George Mastras e Peter Gould.


Na primeira temporada, Walter White, que além de lecionar Química em um colégio, faz bicos em um lava-rápido para completar a renda, descobre que está com um câncer de pulmão, possivelmente terminal. Walter tem uma esposa grávida e um filho adolescente com paralisia cerebral, não pode custear o tratamento de seu câncer e teme deixar a família sem recursos caso venha a falecer. Por isso, quando descobre por meio de seu cunhado, um agente federal que atua no combate às drogas, que a venda de metanfetamina pode render milhões de dólares, ele decide fabricar e vender seus próprios cristais. Para isso, se junta a Jesse Pinkman, seu ex-aluno, já com trânsito no negócio de drogas. Juntos, os dois tentam se estabelecer como produtores locais e encontrar distribuidores que os ajudem a vender a droga. No processo, tanto Walt como Jesse precisam adquirir um certo grau de frieza e violência necessários no meio. E Walt descobre aos poucos que gosta da sensação de poder que experimenta ao quebrar as leis.


Coloquei abaixo uma tabela

na qual elenquei os maiores eventos das tramas principais dos 7 episódios da 1ª temporada de Breaking Bad. Há tramas e eventos que foram ignorados na tabela (muita história para poucas células), portanto vale a pena ver e rever a série para estudar seu arco em detalhe.


Lembrando que o arco narrativo é o desenrolar de uma história do começo ao fim. Na estrutura clássica, ele pressupõe algum tipo de mudança entre um ponto e outro. Ou seja, aqui vamos analisar o processo de transformação do início do primeiro ao fim do sétimo episódio da temporada. Bryan Cranston, que interpreta o protagonista da série, segue a ideia aristotélica de que--

“Uma história deveria ser tão longa quanto necessário para contá-la por inteiro. Você consegue imaginar Breaking Bad como um longa-metragem? Seria horrível. Duas horas para contar essa história? Essa mudança de um homem bom a mau em duas horas? É muito truncado. Muito comprimido. Não seria possível experimentar a dor lenta da transição.” (Bryan Cranston. “Ep #111: Bryan Cranston”. Conan O’Brien Needs a Friend, Earwolf, 31 de Janeiro de 2021. https://omny.fm/shows/conan-o-brien-needs-a-friend/bryan-cranston. Citação traduzida por mim.)

Corroborando com este ponto de vista, veremos abaixo como cada episódio tem seu próprio arco e é, ao mesmo tempo, uma espécie de "degrau" na curva de tensão dramática da temporada: quanto mais perto do penúltimo episódio (o clímax da temporada), mais alto o degrau na curva e maior a transformação de Walter de professor dócil a produtor de metanfetamina impiedoso.


Na tabela, cada coluna equivale a um episódio, ao passo que acompanhamos horizontalmente o arco da primeira temporada.


Percebe como Walter, já no fim do primeiro episódio, está diferente do começo? É porque ele não muda do nada – a sede de poder faz parte de seu caráter antes mesmo da história começar. Ele só precisa de um pequeno empurrão para disparar os mecanismos que vão permitir que alimente esta necessidade de autoafirmação. O empurrão, no caso, é o diagnóstico de câncer: ele agora precisa conseguir dinheiro de um jeito rápido e, com a morte rondando, está disposto a se arriscar para atingir este objetivo. Essa soma de fatores é quase como um passe livre para a criminalidade.


No entanto, se Walter se tornasse um assassino desumano já no piloto, não só a história acabaria, como provavelmente não sentiríamos tanta empatia por ele. A proposta da série é vermos como um homem comum se torna um homicida. Assim, não só o primeiro assassinato que Walter comete é em legítima defesa, como quando ele precisa de fato assassinar alguém que a princípio não o está ameaçando, leva dois episódios inteiros (2 e 3) para conseguir. E só completa a tarefa porque, novamente, sua vítima tenta matá-lo primeiro.


Depois que atravessa seu début no mundo do tráfico, Walter uma vez mais reluta, agora em relação a todo o plano. Ele desiste da carreira de produtor de metanfetamina e volta à rotina de professor. Mas a experiência da transgressão e a evolução do câncer não permitem que o protagonista de Breaking Bad abandone sua trajetória: ele precisa de dinheiro e não aceita mais ser humilhado. Assim, depois de se confrontar com seu passado, quando foi enganado pelo amigo que ficou milionário às custas de suas ideias, Walter volta determinado a fazer seu novo "empreendimento" funcionar. Só que ainda sem muita noção de onde está se metendo, ele quer vender drogas ilegalmente, sem violência alguma (episódio 6). Evidentemente, Walt não só é obrigado a ser violento para não ser roubado, como aprecia seu lado perverso que estava até então dormente.


É este Walter que acaba de saborear seus primeiros traços de crueldade que se despede de nós ao fim da primeira temporada. Segue sendo o mesmo personagem receoso do início da série, mas com mudanças de comportamento que o levarão a mais quatro temporadas de ascensão no mundo do crime. E o final desta temporada promete mais transformações futuras em Walter. Isso é feito por meio da figura do violentíssimo distribuidor Tuco, com quem, na última cena do último episódio, Walter combina de passar a negociar regularmente. Foi justamente Tuco quem gerou a maior e mais explosiva (perdoem o trocadilho) metamorfose da série (episódio 6): do submisso Walter White ao terrível Heisenberg.


 




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